5

Blitz subiu os degraus quase tão depressa quanto Wulfric, mas as pernas compridas do jovem o tornavam mais rápido. Quando ela ainda chegava no segundo andar, ele já estava parado no corredor, escutando.

– Wulfric… – Blitz tentou dizer.

– Silêncio, eu estou tentando ouvir – o garoto disse. – É muito difícil sem me transformar.

– Você tem certeza que escutou uma pessoa?

– Tenho.

– Por que alguém estaria aqui?

– Você já não respondeu isso antes, no galpão?

– Ninguém viria tão longe assim pra beber, Wulfric. Não quando é possível ser assassinado em galpões abandonados mais próximos da cidade.

– Talvez sejam sem-tetos.

– Por que alguém iria morar aqui? Tem vários outros prédios vazios em Linsel.

– Aqui é calmo, afastado dos bairros ruins e da polícia. E além disso, tem água corrente.

– O quê? Como você sabe disso?

Wulfric apontou para uma parede ali perto, onde uma mancha escura e úmida maculava o gesso claro. Um fio d’água parecia escorrer constantemente de uma rachadura envolta por mofo e limo.

Blitz levantou uma das sobrancelhas ao fitar a infiltração e Wulfric respondeu a pergunta que já surgia em sua mente:

– Provavelmente tem um poço artesiano com uma bomba ainda funcionando aqui. Ou um reservatório de chuva. – Ele parou de falar ao ouvir algo. – Ela está no terceiro andar.

Wulfric disparou pelas escadas novamente.

– Merda – a jovem xingou entre dentes antes de segui-lo.

O garoto pôs-se a ouvir novamente assim que chegou ao terceiro andar e logo disparou para um dos lados do corredor vazio.

Blitz acabou de subir as escadas e correu na mesma direção, os saltos de seu coturno soando alto sobre o chão de linóleo.

Estacou logo em seguida, encarando o corredor à sua frente. Aquele local, diferente do restante do prédio, tinha uma decoração antiga e mais simplista. Parecia uma antiga casa vitoriana que já vira em revistas, e isso lhe dava calafrios. A atmosfera do lugar lembrava Blitz de seu antigo orfanato, onde crescera e de onde fugira e isso lhe trazia recordações que ela preferia não confrontar no momento.

Respirou fundo e tentou focar no presente. Voltou a andar, dessa vez mais devagar, as mãos levadas ao peito.

Pinturas a óleo danificadas pela umidade decoravam as paredes, encerradas em molduras baratas repletas de cupins. A maioria das portas eram decoradas com floreios e estavam escancaradas, levando a salas que só continham camas velhas demais para serem aproveitadas ou entulhos empilhados perto de uma janela quebrada. Outra infiltração manchava o teto e o papel de parede austero do corredor.

Wulfric esperava próximo a uma grande porta dupla entreaberta que levava para uma área mais espaçosa. Blitz diminuiu o passo quando o alcançou. Ela já se preparava para dar uma bronca no rapaz quando notou sua expressão assustada. Curiosa, seguiu seu olhar até a outro lado da porta.

Algo rasgava a carne de um corpo estirado no chão.

Blitz arregalou os olhos e imediatamente empurrou o corpo paralisado de Wulfric para o lado, escondendo-se junto dele atrás da porta de madeira. Ela não sabia se o garoto estava aterrorizado o suficiente para gritar, mas tapou sua boca mesmo assim.

Ambos se abaixaram ao se esconder. A respiração pesada de Wulfric fazia a mão de Blitz subir e descer e ela podia sentir o ar quente saindo de suas narinas mesmo através de suas luvas.

O jovem fechou os olhos e respirou fundo pelo nariz, acalmando-se. Depois tocou levemente a mão de Blitz e a tirou de sua boca.

– O que é aquilo? – perguntou aos sussurros.

– Não tenho certeza – a garota respondeu no mesmo tom. Depois, esticou a cabeça, olhando com cuidado para o outro lado da porta.

A montanha de músculos e pelos, que se encontrava ajoelhada sobre o corpo de um jovem de aparência asiática, arrancou mais um pedaço de carne do abdômen do garoto com um som nauseante e o mastigou.

Tinha os ombros e o tronco parecidos com os de um homem, mas duas vezes maiores. Seu corpo era todo coberto por pelos marrons e hirsutos. Suas pernas musculosas se dobravam sobre o cadáver jogado ao chão e terminavam em cascos que se assemelhavam a pés humanos.

A criatura ergueu a cabeça ao arrancar mais um pedaço de carne e Blitz prendeu a respiração. A caveira de um cervo de tamanho descomunal se encontrava onde uma cabeça humana supostamente estaria. A cor clara do osso nu destacava-se na sala iluminada apenas pela luz azulada que entrava pelas janelas. Uma enorme galhada branca de pontas afiadas movia-se a cada mordida do monstro. E em sua mandíbula onde deveria haver os dentes de um herbívoro, havia as presas manchadas de sangue de um predador.

Blitz olhou para o corpo do jovem que se movia cada vez que a criatura abocanhava mais um pedaço de carne ou órgão. Seus olhos escuros e estreitos ainda estavam abertos e pareciam observar a garota por todo aquele tempo. Por um instante, Blitz pensou que ele ainda podia estar vivo, sentindo seu tórax aberto ser devorado. Ela afastou esse pensamento assim que surgiu em sua mente, por ser algo completamente ilógico e, mais importante, assustador.

A garota recolheu a cabeça e olhou para o rosto ainda aterrorizado de Wulfric.

– É um wendigo – sussurrou para o jovem.

– O que diabos é um wendigo? – Wulfric sussurrou de volta.

– O quê? Você ainda não chegou nesse capítulo no livro onde aprendeu sobre ghouls?

– Você está bem confiante pra alguém que pensava estar caçando ghouls até um minuto atrás, não acha?

– Que seja – Blitz revirou os olhos.

– O que é um wendigo?

A garota apenas suspirou, impaciente.

– Blitz! – ele insistiu.

– Ok, ok. – Ela explicou: – Um wendigo nasce a partir do espírito errante de uma pessoa consumida pela ganância durante a vida. Ele devora outros espíritos durante sua existência em Anima até que esteja forte o suficiente para atravessar para um dos planos físicos.

– Aquilo não parece nenhum pouco com um punhado de espíritos, Blitz.

– É porque quando está forte o suficiente, esse monte de espíritos é capaz de possuir um ser vivo de mente fraca e tomar forma física. Quando mudam de plano, suas necessidades passam a ser físicas também, e para satisfazê-las eles começam a devorar a carne de seus antigos semelhantes, geralmente humanos. Eles são amaldiçoados com uma gula insaciável e sempre que comem, crescem na mesma proporção e por isso continuam sempre famintos por mais carne. – Blitz olhou novamente para o monstro no fim da sala. – Esse é excepcionalmente grande.

– E o que fazemos agora?

– Nós… – Blitz notou as mãos de Wulfric. – Você está tremendo?

– O quê? Não! – Ele escondeu as mãos nos bolsos da jaqueta. – O que vamos fazer?

– Nosso trabalho, é claro. Nós o matamos.

– Como?

– Wendigos são extremamente resistentes à ataques físicos e magia em geral, mas não tanto à magia elemental – Blitz levantou um dedo e fez uma faísca azul brilhar momentaneamente de sua ponta.

– Ok…

– Então vamo–

– Espere! – Wulfric meio que sussurrou, meio que gritou. – Nós temos que achar quem estava chorando.

– Não era ele? – Blitz fez menção ao rapaz sendo devorado.

– Não, era uma menina. Eu te disse, não? Deixa pra lá. – Wulfric fechou os olhos e escutou. – Acho que ela parou… Não, espere… – Ele olhou para trás da porta. – Droga! Ela está lá dentro.

– Você deve estar brincando comigo – Blitz disse ao olhar novamente para a sala espaçosa a procura da menina.

O lugar havia sido um refeitório, com toda a certeza. Um balcão onde a comida era servida se encontrava logo à direita, duas portas ao fundo demarcavam banheiros masculino e feminino e, em uma das paredes, uma mangueira de incêndio gasta se pendurava de uma canalização vermelha, gotas d’água caindo em um ritmo constante de seu bico de latão. Algumas mesas e cadeiras ainda se espalhavam pelo centro da área, mas Blitz achava que a maioria deveria ter sido saqueada há tempos. Na parede da esquerda, grandes janelas de vidro ainda resistiam ao tempo e ao acaso. A luz da lua era filtrada pelo Véu e atravessava o vitral arranhado, mergulhando o cômodo em um azul pálido.

E ali abaixo das janelas, uma barraca feita de pedaços de lona e madeira se encostava na parede. Dentro do abrigo improvisado, uma garota negra, com não mais que quinze anos, encolhia-se e choramingava sem parar.

Blitz perguntou-se porque alguém se daria ao trabalho de construir um abrigo em um lugar que já possuía um teto. Talvez funcionasse como os fortes que crianças construíam para brincar ou se sentirem mais protegidas dentro de casa. Mas ainda não entendia. Nunca tinha construído um, afinal de contas. Esse tipo de passatempo não fizera parte de sua infância. Não houve muitas ocasiões divertidas naquela época.

– Nós temos que salvá-la – A voz de Wulfric a trouxe de volta ao presente.

– É… – Blitz estalou a língua, frustrada. – Merda…

Ela odiava situações como aquela, onde seu trabalho era complicado por causa da fraqueza de outras pessoas. Por que a garota não salvava a si mesma? Por que ela se permitia ficar paralisada pelo medo? Por que sua única reação era chorar e esperar por ajuda? Blitz sabia o quão irracionais aqueles pensamentos eram, mas nem por isso eles desapareciam.

– Blitz… – Wulfric voltou a falar. – O que fazemos?

– Eu distraio aquela coisa. Você pega a garota.

– Depois fugimos? – o jovem perguntou com uma leve nota de esperança na voz.

– Não – Blitz sorriu. – Agora se prepare e espere por minha deixa.

Wulfric engoliu em seco e respirou fundo, depois acenou com a cabeça.

Blitz levantou-se, austera como sempre, e entrou na sala comunal, seus passos audíveis sobre o piso de linóleo quadriculado. Caminhou num círculo anti-horário, afastando-se da garota que ainda soluçava. O wendigo levantou a cabeça, um pedaço de carne sangrento pendurado em sua boca. Girou a caveira cervídea que formava seu rosto e encarou Blitz com olhos rubros.

Os cabelos da garota se arrepiaram quando ela levantou sua mão, o indicador apontado para o monstro. Ela canalizou sua mana para a ponta do seu dedo, respirou fundo e a liberou.

Eletricidade, selvagem e descontrolada como uma serpente raivosa, disparou de seu dedo. A faísca percorreu a distância até seu alvo em um segundo, criando novas centelhas no caminho que ricocheteavam no chão e no teto, pintando a sala em um azul elétrico.

O wendigo recebeu o ataque, soltando um berro animalesco quando a energia percorreu todo o seu corpo.

– Agora! – Blitz gritou e assistiu Wulfric se esgueirar rapidamente para a menina.

O monstro não pareceu ouvir os passos suaves do jovem, levantando-se lentamente ao invés disso. Suas grandes galhadas rasparam por um momento no teto, deixando ali arranhões que Blitz reconhecia muito bem.

A criatura virou-se para encarar a garota.

Pelos marrons, grossos como agulhas, cobriam quase todo seu corpo. Seu peitoral era como uma parede de concreto maciço e seus braços, como troncos de árvores estranhamente longos. Mãos que podiam segurar a cabeça de um homem adulto, como uma criança segura a de uma boneca, descansavam no fim daqueles membros grotescos e garras tão longas quanto dedos ameaçavam cortar tudo que tocassem.

A criatura abriu suas mandíbulas, mostrando suas presas manchadas de escarlate, como as de um lobo que acabara de sangrar sua caça até a morte. O som que saiu de sua garganta não parecia com o de nenhum animal que Blitz conhecia. Era selvagem como o de uma fera, mas lembrava o gemido de um homem que perdera toda a sua humanidade.

Blitz sentiu calafrios percorrerem sua espinha. Apontou novamente o dedo para o wendigo e disparou. A eletricidade rebateu em móveis e paredes, criando faíscas amarelas pelo caminho.

Dessa vez o wendigo estava preparado.

A criatura abaixou a cabeça sem hesitação e recebeu toda a energia com suas enormes galhadas. Diferente de antes, o ataque pareceu não surtir efeito algum.

Blitz estreitou os olhos ao ver aquilo, mas logo focou em Wulfric que acabava de chegar na menina caída.

– Não tenha medo – ele sussurrou mais alto do que a jovem gostaria que fizesse. – Nós viemos te salvar. Meu nome é Wulfric e aquela ali é a Blitz. Qual o seu nome?

– Natália – a menina balbuciou.

– É um nome bonito.

– Anda logo, Wulfric! – Blitz já perdia sua compostura.

– Eu vou te tirar daqui – O jovem começou a levantar a menina que soltou um grito abafado.

– Meu pé! – ela chorou.

O wendigo notou o gemido, girando a cabeça na direção da menina e Blitz disparou mais uma vez para impedi-lo.

– Olhe pra mim, seu monte de músculos idiota! – ela sibilou.

A criatura vacilou ao receber o ataque e voltou a encarar Blitz. Deixou-se cair sobre as patas da frente e urrou antes de investir sobre a garota.

O wendigo percorreu a distância até Blitz mais rápido do que uma criatura daquele tamanho deveria ser capaz, seus chifres apontados para frente, prontos para empalar qualquer coisa no caminho.

Blitz abaixou seu centro de gravidade e correu para o lado assim que ele se aproximou, saltando no último instante e desviando por pouco da investida selvagem. Rolou no chão empoeirado para absorver o impacto e levantou logo em seguida. Seu nariz começou a coçar, mas ela ignorou a sensação incômoda.

– Por que a demora?! – gritou para Wulfric.

– Ela está presa! – o rapaz respondeu. – Tem uma barra de ferro atravessando o pé dela até o chão.

– Merda. – Ela olhou para o wendigo que já se virava em sua direção. – Ele não queria que ela fugisse enquanto devorava aquele cara.

– Como assim?

– Ele estava guardando a menina para a sobremesa – Blitz explicou, impaciente, e viu a expressão de surpresa no rosto de Natália e a náusea no de Wulfric. – Tem certeza que não consegue tirar ela daí?

Wulfric levantou-se, dando a volta na menina, e segurou a estaca de ferro fincada ao chão. Colocou força nas pernas e puxou, gemendo com o esforço.

– Droga! – gritou, deixando-se cair no chão. – Eu não consigo sozinho.

– Tch – Blitz estalou a língua, ainda fitando o monstro. O wendigo se aproximou o suficiente e levantou o braço, preparando mais um ataque.

– Você não consegue se transformar em algo de útil? – perguntou. – Um gorila? Talvez um elefante?

– Vai se ferrar, Blitz! – Wulfric gritou. – Não é hora pra piadas!

A jovem sorriu enquanto desviava das garras que tentavam cortá-la ao meio. Saltou para trás, colocando distância entre ela e a criatura.

– Certo – disse ao levantar o indicador. – Então só há uma forma de salvá-la.

Blitz disparou outra descarga no wendigo que se defendeu com os chifres. Não satisfeita, atacou novamente. E então mais uma vez.

A criatura aparou cada raio com as galhadas e urrou, desafiadora.

– Você é bem durão, hein… – a jovem murmurou, mais para si do que para seu oponente.

O wendigo investiu mais uma vez, atirando cadeiras e mesas que se colocavam em seu caminho para os lados como se fossem feitas de papelão. Blitz saltou para o lado e pôde sentir uma das galhadas rasgar seu vestido.

– Desgraçado! – amaldiçoou entre dentes.

– Não parece estar funcionando! – Wulfric gritou.

– Eu percebi – a jovem disse, revirando os olhos.

– Você já não deveria ter uma estratégia pra lutar contra wendigos?

– Como? É a primeira vez que vejo um.

– O quê?! Mas então como… – Wulfric começou a dizer, mas logo gritou: – Cuidado!

A criatura virou-se sem aviso, varrendo toda a área ao seu redor com sua vasta galhada. Mas Blitz não se distraíra por nenhum momento. Ela saltou para trás com a elegância de uma acrobata, girando o corpo em um mortal perfeito ao apoiar as mãos no chão para completar o movimento, pousando com a leveza de uma bailarina.

A jovem levantou as duas mãos dessa vez, aumentando sua voltagem. Arcos voltaicos percorreram seus braços dos ombros às pontas dos dedos. Ela se concentrou e disparou dois feixes de correntes elétricas que pareceram lutar entre si até chegar ao wendigo.

O monstro abaixou a cabeça e se defendeu novamente com os chifres afiados, a energia seguindo seu fluxo natural para cada ponta da galhada.

– Ah, merda! – Wulfric xingou como a jovem nunca o ouvira fazer antes. – Blitz, ele está aterrando sua magia!

– O quê?! – a surpresa da garota foi genuína.

– Olhe para os pés dele!

Blitz obedeceu e pôde ver os últimos resquícios de sua eletricidade faiscando nas patas traseiras do monstro. A criatura deu um passo para frente, deixando uma pegada carbonizada no chão.

Wulfric gritou de novo:

– Ele está recebendo sua eletricidade através das galhadas e desviando toda a energia para o chão!

Instantaneamente, o wendigo girou a cabeça na direção do jovem, como se o entendesse. Blitz não gostou daquela reação da fera, mas decidiu por se concentrar na luta.

– E como é que ele está fazendo isso? – ela perguntou.

– Eu não sei. Ele provavelmente sabe como controlar o fluxo de mana pelo próprio corpo.

– Essa coisa deveria ser irracional.

– Talvez seja um instinto remanescente de quando ele ainda era humano.

Aquela explicação era um tiro no escuro, mas Blitz tinha de admitir que era pelo menos plausível.

– E o que eu faço então?

– Eu não sei – Wulfric abaixou a cabeça pensativo. – Ele deve ter um limite. Uma corrente poderosa o suficiente pode funcionar.

Blitz gostou da ideia. Seria como estourar um fusível ao lhe difundir muita energia. Mas a execução, era outra história.

– Você tem ideia de como é difícil eletrificar ar? – ela perguntou. – Eu não consigo usar muito mais força que isso e, pra falar a verdade, nunca precisei. Praticamente qualquer outra coisa já estaria morta agora.

Blitz parou de falar para se esquivar de uma cadeira jogada em sua direção e teve uma ideia quando as garras do wendigo quase alcançaram seu estômago.

– Tem algo que pode dar certo – disse ao saltar para trás. – Se eu tocá-lo, a única resistência vai ser a de seu corpo, que eu aposto que é menor que a do ar.

– Nem pensar! – Wulfric falou. – Aquela coisa tem chifres e dentes e garras afiadas demais. Seria suicídio.

– Eu consigo.

– Não, Blitz! Se você morrer, nós morremos também e eu não vou te perdoar por isso!

Blitz mordeu os lábios.

Ela nunca admitiria em voz alta, mas Wulfric podia estar certo. Normalmente, não hesitaria em seguir este impulso, mas ela já estava se esforçando mais do que gostaria para se esquivar de todos os ataques, mesmo afastando-se ao atacar. Se mudasse para combate de curta distância, não sabia se seria capaz de fazer o mesmo.

E se ela morresse ou ficasse debilitada, Wulfric não fugiria. Ela mal o conhecia, mas sabia disso. Ele ficaria ali e tentaria salvar as duas garotas. E o simples pensamento de Wulfric se sacrificando como um idiota para proteger uma das duas a deixava irritada. Decidiu por ser cautelosa dessa vez.

– Então o jeito é cansá-lo e esperar por uma abertura – ela concluiu.

Quando a última palavra saiu de sua boca, o wendigo parou de se mover. Blitz começou a se perguntar o porquê, mas logo descobriu. A criatura virou-se na direção de Wulfric e Natália e caminhou até eles.

Blitz atacou uma vez para chamar sua atenção, mas o wendigo apenas recebeu o impacto com um gemido de dor e continuou.

Aquilo era uma armadilha.

A criatura poderia facilmente investir sobre suas quatro patas como fizera antes e não teria nada que Blitz pudesse fazer. Ao invés disso, caminhava lentamente sobre suas patas traseiras. Ele queria atraí-la.

– Merda! – Ela começou a correr.

Wulfric ainda tentava libertar Natália quando percebeu a aproximação do monstro. O wendigo levantou o braço e o negror de suas garras se transformou em um borrão quando ele abaixou a pata com toda a sua força na direção dos dois.

O jovem se jogou na frente da menina e abriu os braços para receber o golpe que o partiria ao meio.

Blitz surgiu no mesmo instante entre a criatura e suas vítimas. Levantou suas mãos como se fosse segurar o golpe e uma explosão elétrica irrompeu de seus dedos, ricocheteando em todas as direções no formato de um domo de centelhas azuis.

Ela ouviu Wulfric e Natália gritando quando a eletricidade se espalhou e só pôde torcer para não tê-los acertado. Sentiu o golpe do wendigo jogando-a para trás ao mesmo tempo que seu ataque arremessava a criatura na direção da parede oposta.

Wulfric a segurou e ambos foram ao chão.


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