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Blitz saiu do prédio abandonado, descendo as escadas com pressa. Não muito depois, ouviu o ranger da porta se abrindo e fechando novamente. Ouviu passos a seguindo, mas continuou andando. Uma mão tocou seu ombro por um instante, antes de se contrair imediatamente quando um estalo elétrico soou audível como um bater de palmas.

– Ai! – Wulfric exclamou e Blitz virou-se para vê-lo levando o dedo à boca. – O que foi isso?

– Não me toque – a jovem rosnou.

– Tá bom, tá bom. Só espere por mim, ok?

– Por quê?

– Novo parceiro, lembra?

– Eu não preciso da sua ajuda. Posso resolver esse caso sozinha. Não seria a primeira vez.

– Olhe só… – Wulfric massageou as têmporas. – Eu sei que você não gosta da ideia, mas você precisa do trabalho, pelo que vi. Bem, eu também preciso e se trabalharmos junto–

– E por que você precisa justamente desse trabalho? – Blitz interrompeu. – Porque com certeza não é pelo dinheiro. Os casos são esporádicos, o perigo é grande e o salário é pequeno se você for levar em conta a quantidade de vezes que sua vida vai estar por um fio.

– Não é pelo dinheiro, ok? Eu só quero ajudar as pessoas.

A irritação no rosto de Blitz sumiu ao mesmo tempo que uma expressão divertida surgiu no lugar.

– Ajudar pessoas? – Ela riu. – Você está brincando, não é?

– O quê? Não. Por que eu estaria? – Wulfric pareceu realmente confuso.

– Você realmente acha que é isso que fazemos? Nosso trabalho é matar monstros. Quando alguma coisa resolve atravessar o Véu ou simplesmente nasce do lado de cá e resolve fazer um lanche, nós a achamos e a matamos. Só isso. Somos lixeiros, simples assim.

– Você está me dizendo que nunca salvou ninguém? Que matar esses monstros não evitou mais mortes? Do que você chama isso então?

– Efeito colateral – Blitz respondeu friamente.

Wulfric piscou ao ouvir aquelas palavras. Abriu a boca para dizer algo, mas a fechou novamente. Pareceu pensar por mais alguns segundos antes de dizer com veneno na voz:

– Por Neliel… Você é a garota mais cínica que eu já conheci.

– Eu não duvido – Blitz disse e se virou, voltando a caminhar.

Wulfric voltou a segui-la.

– Olha, eu não dou a mínima se você não gosta de mim ou se nossas opiniões sobre esse trabalho são diferentes. Eu vou resolver esse caso junto de você como Zephir queria. Gostando ou não.

A garota apenas bufou.

– Tanto faz, Wolfgang…

– É Wulfric.

– …só não fique no meu caminho.

– Eu não pretendo. Onde vamos agora?

– Para o galpão, onde mais?

– Eu quis dizer como vamos chegar lá?

– Ônibus.

Wulfric estacou.

– Sério?

– Como você achou que íamos? Andando?

Wulfric levou as mãos aos bolsos e uma expressão ligeiramente arrogante surgiu em seu rosto.

– Certo, certo… Erro meu. É só que eu tenho uma moto e estava achando que podíamos usá-la… Mas tudo bem, vamos do seu jeito…

Blitz estacou.

Aquele era um de seus pontos fracos. Ela sempre quis ter uma moto. Sonhava em sair sem rumo e sem destino pela cidade, com nenhuma companhia além do vento mutável em seus cabelos. Entretanto, nunca aprendera a pilotar ou teve o dinheiro para comprar uma.

Seu impulso foi de simplesmente dizer sim, mas ela se segurou. Ficou em silêncio por alguns segundos antes de se virar para o jovem.

– Uma moto? – perguntou, fingindo desinteresse.

– Está estacionada no fundo do prédio. E eu tenho um capacete extra.

– Bem… Talvez… Talvez não seja uma má ideia. Mas só porque estou com pressa.

Wulfric não escondeu seu sorriso vitorioso.

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– Isso não é uma moto! – Blitz gritou, tentando soar mais alto que o motor barulhento.

– É claro que é! – Wulfric berrou através do vento que acertava seu rosto coberto por um par de óculos de motociclista. – Tem duas rodas e um motor. Isso caracteriza uma moto.

– É uma lambreta! – a garota corrigiu ao ajeitar o capacete tipo coco sobre seu cabelo rebelde.

– Não é uma lambreta qualquer! É uma vespa!

– Tanto faz. Ainda não é uma moto. – Blitz ia dizer algo mais, mas Wulfric acelerou ao pegar a saída oeste da avenida e a garota desistiu.

Segurou-se firme na traseira da lambreta e manteve-se o mais afastada possível do jovem, tentando não criar inconscientemente mais uma descarga elétrica como acontecera antes.

Esvaziou a mente e apreciou o vento frio em seu rosto pelo resto da viagem.


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